sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Mediunidade não está atrelada à esquizofrenia, diz pesquisa

Estudos desenvolvidos no Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tentam desvendar um campo ainda de incertezas para a ciência e que tem ganhado destaque na mídia nos últimos meses: experiências espirituais, como a mediunidade.

Desde o ano passado, pesquisadores analisam cerca de cem médiuns de Juiz de Fora para listar critérios para um diagnóstico que diferencie experiências espirituais saudáveis de transtornos mentais, como os psicóticos, pois os dois estados podem se confundir, afirmam pesquisadores. Outro estudo captou imagens do cérebro de médiuns quando psicografavam e quando escreviam um texto de sua autoria, para avaliar quais áreas são ativadas nessa parte do organismo. Já uma pesquisa, finalizada, concluiu que as ocorrências mediúnicas não implicam necessariamente em esquizofrenia, que se caracteriza por delírios e alterações do pensamento e no contato com a realidade.

"Se a pessoa diz que está vendo vultos, será que é uma experiência espiritual não patológica ou alucinação, indicando um transtorno mental?", questiona o professor da UFJF e aluno de doutorado em Saúde Brasileira, Adair Menezes Júnior, para a sua tese em elaboração, que pretende identificar se a experiência espiritual é ou não um transtorno psíquico, para a qual estão sendo entrevistadas as cem pessoas.

O orientador do trabalho, professor da UFJF Alexander Moreira-Almeida, revisou estudos, ao lado de Menezes, apontando nove critérios encontrados para esse diagnóstico que separe o que é uma vivência espiritual do que é um transtorno mental. Em relação à experiência vivida, os nove preceitos são: ausência de sofrimento psicológico; ausência de prejuízos sociais e ocupacionais; duração curta da experiência; atitude crítica (ter dúvidas sobre a realidade objetiva da vivência); compatibilidade com o grupo cultural ou religioso do paciente; ausência de comorbidades; controle sobre a experiência; crescimento pessoal ao longo do tempo e uma atitude de ajuda aos outros. "A presença dessas condições sugere uma experiência espiritual não patológica, mas, por outro lado, há carência de estudos bem controlados testando esses critérios", ressalva o professor.


Esquizofrenia

Em outra pesquisa que reuniu 115 médiuns espíritas, o maior número já investigado em todo o mundo, conforme Moreira-Almeida, autor do estudo, concluiu que as manifestações mediúnicas da maioria dos médiuns começaram na infância e que, atualmente, essas ocorrências não implicam fundamentalmente que a pessoa seja esquizofrênica. Além disso, segundo o trabalho, a mediunidade provavelmente se constitui numa vivência diferente do transtorno de personalidade múltipla.

De acordo com o professor, que é psiquiatra e coordenador do Nupes, a mediunidade foi considerada, pela Medicina, nos séculos 19 e 20, como um grave transtorno mental. Nas últimas décadas, porém, esse conceito desapareceu. "Os médiuns, assim como qualquer pessoa, podem sofrer de transtornos mentais. Mas os estudados exibiram um bom nível de ajustamento social e uma prevalência de problemas psiquiátricos menor do que a população geral", declara.

O principal objetivo do estudo foi definir o perfil sociodemográfico e a saúde mental em médiuns espíritas, além do histórico de suas experiências mediúnicas. Realizado em São Paulo, na época, o trabalho reuniu investigações que apontaram, entre outros dados, que 2,7% dos médiuns entrevistados eram desempregados, 46,5% possuíam ensino superior e 76,5% eram mulheres. Além disso, a média de idade dos entrevistados era de 48 anos e a média de anos no espiritismo, de 16 anos.

A pesquisa foi feita para a tese de doutorado em psiquiatria do professor, na USP, em 2005, intitulada "Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas", apresentada em congressos em vários países. Moreira-Almeida possui outras pesquisas na área, em andamento, como casos de cirurgia espiritual e estudos históricos de investigações científicas de experiências espirituais.


Funcionamento do cérebro

Em um estudo, em andamento, o professor investiga como é o funcionamento cerebral dos médiuns durante a psicografia, para determinar se esse processo está associado a alterações específicas na atividade cerebral. Foram analisados dez médiuns, sadios, sem transtornos mentais presentes, para comparar a ação de psicografar com a tarefa de escrever um texto de autoria do próprio indivíduo, porém, fora do estado mediúnico. As imagens foram coletadas, em agosto de 2008, na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e estão em análise.

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